Na época em que minha tarefa era assar truta para Meishu-Sama, pensava sempre: “O importante não é exatamente a maneira de assar o peixe, mas o meu pensamento no momento em que vou prepará-lo.”

Por exemplo, nos dias de culto, só de ver da janela a fisionomia dos meus parentes que chegavam, ficava alvoroçado. Nessas ocasiões, Meishu-Sama de imediato percebia o meu estado de espírito e dizia: “O peixe de hoje não está no ponto ideal.” Mesmo que o peixe tivesse sido devidamente assado, se o pensamento estivesse distraído, eu era censurado. Nada escapava ao olhar de Meishu-Sama.

Numa ocasião, assei a truta e servi Meishu- Sama pensando que, desta vez, ele não teria motivos para reclamar. Porém, ele olhou o peixe e disse meio irritado: “Esta parte aqui não está bem assada”, indicando um ponto próximo da cauda. Após isso, ele mostrou-se muito bem-humorado. Acredito que aquele foi um modo de ele apontar a minha arrogância. Dediquei-me à tarefa de assar peixe durante mais ou menos um ano. Pensando bem, todas aquelas repreensões, de facto, procediam. No final, conscientizei-me de que só a técnica não adianta: o importante é o pensamento.

Um servidor

Reminiscências sobre Meishu-Sama vol.4