Na vida quotidiana do ser humano, nada é mais temível do que o ga[1]. Isso pode ser bem compreendido se atentar- mos para o fato de que, no Mundo Espiritual, a eliminação do ga é considerada o aprimoramento fundamental.
Quando eu era membro da religião Oomoto[2], encontrei os seguintes trechos no Ofudessaki[3]: “Não há coisa mais temível do que o ga, pois até mesmo as divindades fracassaram por causa dele.” E também: “Devem ter ga e não devem ter ga; é bom que o tenham, mas não o manifestem.” Fiquei profundamente impressionado com estas explicações tão diretas sobre a essência do ga. Evidentemente, refleti muito sobre o assunto.
No Ofudessaki, havia, ainda, as seguintes palavras: “O mais importante é a docilidade[4]. ” De fato, são palavras extraordinárias. Digo isso porque, até hoje, quem aceita o que eu digo sem refutar, progride sem nenhum problema. Entretanto, há quem sinta dificuldades em fazê-lo devido ao seu forte ga. É realmente penoso ver os constantes fracassos decorrentes de tal comportamento.
Como foi exposto, o princípio fundamental da fé consiste em não demonstrar o ga, não mentir e ser dócil.
Jornal Kyusei no 50, 18 de fevereiro de 1950
Alicerce do Paraíso vol. 4
[1] O termo ga significa “eu humano” ou “qualidade particular e distintiva de uma pessoa”, geralmente utilizado para indicar egocentrismo. Conforme o contexto, significa aquele que insiste no próprio ponto de vista sem levar em conta as palavras de outrem. Suas origens remontam ao sânscrito atman e é utilizado no budismo para indicar “indivíduo humano” e “vida centrada no indivíduo”.
[2] Meishu-Sama foi membro da religião Oomoto de junho de 1920 a setembro de 1934.
[3] Ofudesaki: é o nome da coletânea de ensinamentos da fundadora da Oomoto, Nao Deguchi.
[4] O trecho do Ofudesaki citado por Meishu-Sama, originariamente, é “sunao ga itto”. O termo sunao em geral traduzido como “obediência”, na verdade, comporta uma gama de sentidos. A seguir, destacamos algumas explicações: 1) Qualidade de ser natural ou espontâneo, sem se importar com as aparências; simplicidade; 2) Atitude dócil e tranquila de quem age sem contrariar ou confrontar o outro; 3) Postura de quem ouve calado e com atenção; 4) Pessoa de fácil trato.