Na mocidade, apreciei muito a filosofia. Entre as várias teorias filosóficas, a que mais me atraiu foi o pragmatismo, do renomado norte-americano William James[1]. Pragmatismo poderia ser traduzido como “filosofia em aCção”. Segundo James, a mera explicação de teorias filosóficas não passa de uma espécie de diversão. Para ele, a filosofia só tem valor quando manifestada por meio da ação. Acho essa teoria interessante por levar em conta a realidade, o que mostra uma característica dos filósofos norte-americanos. Naquela época, simpatizei-me, portanto, com seu pensamento e me esforcei para incorporar a filosofia ao meu trabalho e até mesmo à vida cotidiana. Dessa forma, o benefício que o pragmatismo me proporcionou não foi pequeno.

Mais tarde, ao professar a fé, comecei a considerar a necessidade de estender o pragmatismo à Religião, ou seja, aplicar a religião ao dia a dia. Podemos imaginar quão grandes benefícios nos proporcionaria a introdução do espírito religioso em todas as atividades. Por exemplo, o político, livre dos próprios interesses, não cometeria desonestidades e, uma vez que visaria à felicidade do povo, obteria a confiança de todos, e a política fluiria bem. O empresário realizaria suas atividades honestamente, o que lhe proporcionaria ampla credibilidade, e seus negócios progrediriam com solidez, porque ele trataria seus funcionários com amor, e estes trabalhariam com dedicação.

Por realizar seu trabalho com sólida fé, o educador seria respeitado pelos alunos, exercendo sobre eles notável influência. Por agirem com base na fé, os funcionários públicos e os de empresas privadas realizariam bons trabalhos e seriam promovidos. Por meio de suas obras, o artista expressaria refinamento e emitiria elevada vibração espiritual, exercendo boa influência sobre o público. O ator, por estar centralizado na fé, manifestaria uma arte refinada; com isso, os espectadores seriam influenciados positivamente e cultivariam uma sensibilidade e consciência elevadas.

Entretanto, tudo isso deve ocorrer sem rigidez didática, de forma bastante divertida e interessante, sempre com bom humor.

Ademais, é fácil imaginar que, pelo fato de manifestar a fé por meio de ações, a pessoa, sem distinção de profissão ou situação social, melhoraria seu destino e prestaria relevantes serviços à sociedade.

Gostaria de chamar a atenção para um fato: ao se aplicar a religião ao cotidiano, não se deve ostentar a fé, pois isso causa repúdio. Principalmente, os fiéis fervorosos em demasia devem ter esse cuidado. Existem indivíduos que fazem questão de exibir sua fé, mas isso é desagradável para as pessoas ao redor. O ideal é não aparentar ser religioso e portar-se como uma pessoa comum. Devem apenas ser mais gentis com as pessoas, causar-lhes impressão agradável e manifestar mais nobreza em suas palavras e atos. Em suma, que a fé não seja nem agressiva nem grosseira.

Na sociedade, vemos certos adeptos que se mostram exageradamente fervorosos e chegamos a suspeitar que sejam psicopatas. São extremamente subjetivos, tornam seu lar sombrio, de maneira alguma se incomodam em causar transtornos ao próximo e, consequentemente, acabam suscitando dúvidas sobre o nível da religião que seguem. A responsabilidade, no entanto, é de quem os orienta e isso exige muita atenção.

Colectânea Assuntos sobre fé, 5 de Setembro de 1948

Ensinamento de Meishu-Sama, extraído do Livro “Alicerce do Paraíso vol. 4”

[1] William James (1842–1910): foi um psicólogo e filósofo estadunidense, com formação em medicina. Escreveu livros sobre a ciência da psicologia, incluindo temas como a educação e a psicologia da experiência religiosa. James foi um dos formuladores e defensores da filosofia do pragmatismo.

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