Em princípio, o que vem a ser a religião? Ela teve origem no amor de Deus, para conduzir as pessoas infelizes à felicidade. Ninguém ignora que muitos se esforçam, em vão, para serem afortunados. Raros são os que conseguem ser felizes, mesmo depois de uma vida inteira de lutas. Longe de ser feliz, a maioria das pessoas vive uma sucessão de infelicidades. Mesmo que a teoria aprendida através da instrução escolar ou da leitura de biografias e livros sobre grandes personalidades seja fielmente posta em prática, são raros os casos bem-sucedidos. A teoria bem embasada merece admiração, mas todos, por experiência própria, sabem que, na prática, as coisas não ocorrem de acordo com ela.
Por exemplo, quem segue fielmente o caminho da honestidade, é visto como ingénuo ou tolo; entretanto, se muda a forma de agir e faz coisas suspeitas, cai no descrédito ou até mesmo nas malhas da lei. Por fim, o indivíduo não sabe como proceder. Por esse motivo é que os espertos definem que o melhor é viver desonestamente simulando atitudes honestas. Essa filosofia de vida se disseminou e, dentre seus adeptos, os melhores se tornam os bem- sucedidos, razão por que as pessoas tendem a seguir tais exemplos, e os males sociais não diminuem.
Pelo mundo ser assim é que se diz que os honestos saem perdendo. Portanto, quanto mais correcto for o indivíduo, mais ele se arrisca a cair no conceito de ultrapassado e ser tachado de inflexível. Com frequência, observa-se que aqueles que pregam a justiça e a retidão, são rejeitados e fracassam na sociedade.
É enorme o meu esforço para empunhar a bandeira do senso de justiça e de retidão diante de semelhante mundo. As pessoas em geral veem essa atitude como tolice e devem me achar um indivíduo excêntrico, covarde e sem ambições, como qualquer outro religioso.
Por tudo isso, no passado, fui alvo de acções judiciais e, também, jornais e revistas escreveram sobre mim de forma sensacionalista. Este tratamento cruel que recebi, se deve ao facto de eu ter escrito destemidamente contra o mal, bem como à inveja suscitada por conta do nosso rápido crescimento. Ultimamente, apesar de todas as pressões, em vista da constância e da força com que estamos expandindo, a sociedade nos tem visto com outros olhos. Acima de tudo, alegra-nos que a situação tenha se abrandado, facilitando nosso trabalho. Isso se deve ao facto de termos Deus em nossa retaguarda, o que nos permite ultrapassar as adversidades com segurança. Ou seja, nossa religião possui uma grande protecção não encontrada nas demais.
Podemos compreender a respeito disso, observando a forma de actuação das religiões de até agora. Em linhas gerais, existem dois tipos. O primeiro é aquele que, reivindicando justiça, segue destemidamente. A religião Hokekyo(1) de Nitchiren, é o melhor exemplo disso e, por essa razão, sofreu perseguições atrozes. Em consequência dessas adversidades, enquanto o fundador esteve à frente, não houve uma expansão expressiva. Só após algumas centenas de anos é que ela conseguiu alcançar seu atual prestígio. O segundo, em contrapartida, temendo perseguições, busca caminhos seguros. Então, mesmo que consiga crescer, necessitará de um longo tempo; caso contrário, será extinta. É nesse ponto que se encontra a dificuldade.
Felizmente, com o advento da democracia, a liberdade religiosa foi estabelecida. Por esse motivo, diferentemente da situação anterior ao término da Segunda Guerra Mundial, agora, vivemos uma época abençoada e conseguimos – livrar-nos de uma fatal perseguição religiosa. Assim sendo, tendo a retidão e a justiça como princípios norteadores, estou, passo a passo, eliminando o mal e avançando em direção ao bem.
A seguir, tratarei da questão da felicidade do ser humano.
Obviamente, é o bem que possibilita a criação da felicidade, sendo desnecessário dizer que, para fazer o bem prevalecer, deve-se ter força suficiente para vencer o mal. Entretanto, até agora, as religiões careciam dessa força; por conseguinte, não proporcionavam a felicidade verdadeira. Foi a teoria da Iluminação do budismo que correspondeu aos anseios do povo, que já tinha desistido da matéria e desejava, ao menos, alcançar a paz espiritual. No cristianismo, por outro lado, pregou-se a resignação por meio da expiação, a exemplo de Jesus Cristo. E a conhecida frase: “(…) a qualquer que te ferir na face direita, volta-lhe também a outra”(2), também se refere ao princípio de não resistência, isto é, ao espírito de derrotismo diante do mal. Como as religiões tradicionais não conseguem vencer o mal em termos materiais, criou-se a teoria da negação das graças recebidas nesta vida. Não é de estranhar o surgimento da classificação de superior para a religião que visa à salvação do espírito, e de inferior, para aquela que consegue proporcionar, também, as graças recebidas nesta vida. Contudo, essa teoria não passou de um recurso até determinada época. Darei alguns exemplos.
Mesmo torturadas por uma doença prolongada, há pessoas que se dizem satisfeitas, alegando que estão salvas quando, na realidade, estão apenas resignadas, sufocando seus verdadeiros sentimentos. Isso significa enganar a si mesmas. Na realidade, é o restabelecimento da saúde que faz nascer a autêntica satisfação.
Desde tempos antigos, sempre houve famílias que, não obstante o ardor de sua fé, não foram agraciadas materialmente, permanecendo infelizes. Dessa forma, acabaram por se iludir, julgando que a essência da religião só objectiva a salvação espiritual.
Entretanto, a Igreja Messiânica salva tanto o espírito como a matéria. Podemos afirmar que ela vai além disso. Em poucos anos de actuação, nossa religião já está construindo Solos Sagrados, museu de arte e outras obras em diversas localidades, e tudo isso depende inteiramente dos donativos dos fiéis. E como abominamos a exploração, temos, como diretriz, contar apenas com o recebimento do donativo espontâneo. Apesar disso, o facto de se conseguir a quantia necessária para empreendimentos de tamanha envergadura é realmente milagroso. Isso prova a prosperidade dos fiéis. Longe de ser temporário, o donativo tende a aumentar, razão por que nunca me preocupei com dinheiro.
Tudo é uma questão de época porque, quando as religiões antigas surgiram, elas podiam ser de carácter shojo(3) e, por esse motivo, o facto de seus fundadores levarem uma vida de privações não constituía nenhum problema. Todavia, hoje isso não é viável. Tudo adquiriu carácter universal, de modo que é preciso que nossas actividades sejam de grande porte, para salvar a humanidade. Quanto maior essa escala, maior o número de pessoas que serão salvas. Por essa razão, ao tomarem conhecimento dos nossos grandes projectos, com certeza, as pessoas mudarão sua visão em relação à nossa religião.
10 de Junho de 1953
Alicerce do Paraíso vol.1
(1) Religião Hokekyo: O mesmo que religião Nitchiren Shu.
(2) Mateus 5:39 (Bíblia de Estudo Almeida).
(3) Shojo: O termo refere-se à religião de carácter fundamentalista, de preceitos rigorosos, que preza pelo bem-estar do indivíduo e não pelo bem-estar da sociedade.