O meu mistério [1]
(…) Desde a criação do mundo, acredito que nunca existiu uma pessoa tão envolta em enigmas quanto eu. Realmente, sou misterioso em todos os aspectos. Ora, se eu próprio penso dessa forma, quanto mais as outras pessoas. É como se elas estivessem tateando no escuro, tentando captar minha imagem real. Isso se deve à existência de muitos mistérios. É curioso, entretanto, que nada atrai mais o interesse do ser humano que o mistério. E este está oculto em todas as coisas. Antropólogos
pesquisam ruínas da antiguidade, bem como a vida dos povos primitivos porque desejam investigar os mistérios da época; cientistas chegam a dedicar a sua vida à pesquisa dos fenómenos físicos, analisando-os e fazendo estudos especiais sobre eles, criando a partir do nada, descobrindo o átomo e tentando conhecer a teoria da transformação da matéria, para revelar esses mistérios; médicos cientistas passam a vida inteira olhando por um microscópio, dedicando-se à dissecação de cadáveres e a experimentos com animais, para descobrirem o mistério da vida; astrónomos vivem a observar o céu com telescópios, pesquisando concentradamente os astros, o vento, a chuva, os relâmpagos, as mudanças climáticas. Idêntico esforço é desenvolvido por historiadores, geógrafos e outros estudiosos. Escritores e artistas plásticos também fazem o mesmo, a fim de receberem inspiração e descobrirem o mistério da Arte. A forma difere de acordo com a especialidade em que actuam, mas todos são guiados por um só desejo: desvendar os mistérios.
O assunto é um pouco diferente, mas até mesmo o relacionamento amoroso entre um homem e uma mulher se fundamenta no mistério da atracção. De facto, é um grande enigma alguém envolver-se sentimentalmente a ponto de dar fim à própria vida por não querer separar-se da pessoa amada. Dessa forma, podemos dizer que a vida é uma luta incessante contra o mistério. Realmente, o mistério é incompreensível, quer por meio de teorias, quer por meio da lógica. Além disso, seu poder é infinito. Consequentemente, podemos afirmar que a condição fundamental para a cultura ter atingido o ponto a que chegou, foi a pesquisa do mistério.
Devemos dizer que o mistério dos mistérios é a fé. Não seria exagero afirmar que o mistério da crença nos deuses supera o do amor-paixão, muito embora, hoje em dia, salvo raras excepções, quase não existam religiões com mistérios. Na época de sua fundação, certamente elas os possuíam em grande quantidade, mas todos eles foram desvendados com o decorrer do tempo. Em comparação, algumas novas religiões possuem muitos mistérios e, por isso, mesmo sendo criticadas, passaram à frente das religiões tradicionais e estão-se expandindo amplamente. A diferença é semelhante à que existe entre uma moça que acabou de se casar e uma senhora casada há muito tempo. E claro que, mesmo nas novas religiões, a quantidade de mistérios varia bastante de uma para outra. Modéstia à parte, não existe religião tão cheia de mistérios quanto a nossa Igreja Messiânica Mundial. Poderão comprová-lo pela rapidez com que ela está crescendo. Visto que sou eu o protagonista de tantos milagres, não se pode calcular quão rico é o poder misterioso que está em meu interior. Por essa razão, desejo fazer com que compreendam o máximo possível minhas palavras, embora seja realmente difícil explicá-las. Isto porque, a partir de certo ponto, o entendimento depende do grau de tchieshokaku[2]? de cada um. Para que me compreendam, não há outro meio, portanto, a não ser polir a alma e tornar-se iluminados.
Farei agora uma autoanálise dos mais diversos ângulos de minha personalidade, para me revelar inteiramente.
Extraído de “A Minha história”, artigo não publicado, escrito em 1952
Luz do Oriente vol. 1
[1] “Mistério: em japonês, shinpi (shin = Deus, divino; pi= hi= secreto, oculto). Meishu-Sama empregou o termo “mistério com conotação ampla, que abrange os sentidos de “secreto”, “segredo, “místico e até a ideia de “divino”, “sagrado” e “divindade”.
[2] Termo utilizado por Meishu-Sama para designar a sabedoria humana que se desenvolve proporcionalmente à elevação espiritual. E também chamada de Inteligência da Suprema Iluminação”