Quando jovem, fui simpatizante da teoria do renomado filósofo francês Henri Bergson. Ainda me lembro de suas teorias com frequência e, nesta oportunidade, desejo apresentá-las por considerá-las de grande utilidade até mesmo do ponto de vista da fé.
A filosofia de Bergson se baseia nos três pontos que se seguem: “Tudo muda constantemente”, “Teoria da intuição” e “O eu do momento”. Dentre eles, o que mais me tocou foi a “Teoria da intuição”, segundo a qual não é simples para o ser humano ver as coisas como elas são, sem a menor distorção. A apreensão da realidade das coisas é verdadeiramente difícil. Por que será?
Originariamente, os seres humanos carregam dentro de si uma combinação de conceitos que foram formados pela educação, pela tradição, pelos costumes etc. e se encontram latentes em seu íntimo como uma barreira. Contudo, eles mal percebem que ela existe. Por essa razão, no momento em que observam as coisas, essa barreira atrapalha. No caso, por exemplo, de analisarem as religiões novas, eles afirmam que todas são religiões falsas e supersticiosas, heréticas ou fraudulentas, mas isso é devido à interferência dessa barreira.
As pessoas de hoje são constantemente influenciadas pela opinião dos repórteres por meio da leitura de jornais e revistas. Por intermédio da audição, sofrem a influência de rádios e escutam boatos, o que contribui para tornar a referida barreira ainda mais sólida. Mesmo presenciando um milagre da cura de uma doença pela fé que o médico foi incapaz de resolver, não conseguem aceitar o fato sem relutância. Antes de mais nada, ocorre-lhes a desconfiança, mas isso também é devido ao bloqueio. No centro deste, existe uma concepção de que a medicina é que cura as doenças; por conseguinte, se vier a ocorrer a cura, dizem que foi em razão do momento propício para tal. Assim, todos nós sabemos, por experiência vivida, que a barreira cria inúmeros pretextos e distorce a realidade.
Nesse sentido, é a “Filosofia da intuição” que corrige os equívocos em que o ser humano facilmente incorre, ou seja, possibilita que o “eu” se mantenha aberto para observar os factos, livre das influências da barreira. Para tanto, eu aconselho as pessoas a vivenciar o “eu do momento” pelo motivo de que a impressão imediata, captada pela intuição ao se ver algo, não constitui erro, já que aquela é a essência daquilo que foi observado. Portanto, caso testemunhem a cura de uma grave doença, devem acreditar nela sem relutância, pois esta é a correta visão.
O facto de as pessoas considerarem impossível a cura de doenças por meio de algo invisível semelhante ao nada – sem o auxílio de aparelhos ou remédios – significa que elas estão bloqueadas pela barreira. A hipótese de alguém afirmar: “Isto é uma superstição e não existe tolice maior” significa que a barreira dessa pessoa colaborou para aumentar o obstáculo. Portanto, devemos estar bastante atentos para esse ponto. O que apresentei é uma pequena noção da “Teoria da intuição”.
A seguir, vejamos a teoria “Tudo muda constantemente”, que significa que todas as coisas estão em constante mudança. Por exemplo: nós, hoje, não somos os mesmos que fomos ontem, pois, sem dúvida, estamos diferentes em algum ponto. Da mesma forma, somos diferentes do que fomos há cinco minutos. O mundo de ontem também não é o mesmo de hoje. Evidentemente, isso ocorre igualmente com a sociedade, com a cultura, bem como com as relações internacionais. Assim sendo, o ser humano deve manter a visão clara sobre as mudanças, e esta é a maneira correcta de ver as coisas.
Por essa lógica, as pessoas deveriam mudar igualmente sua forma de ver e pensar a religião e a cultura. No entanto, como julgam as religiões novas utilizando-se da visão sobre as religiões formadas há centenas ou milhares de anos, é natural que não atinjam o discernimento correcto.
Este é o significado da teoria “Tudo muda constantemente”.
Colectânea Série Jikan, vol. 12, 30 de Janeiro de 1950
Alicerce do Paraíso vol. 4