O meio mais seguro para avaliar o valor de uma pessoa é saber se ela possui, ou não, senso de justiça e de retidão. Eu tenho dois critérios que são infalíveis: se a pessoa não faz coisas erradas e se é confiável, ou seja, se podemos delegar- lhe qualquer coisa, sem receio. Posso afirmar que não existe método melhor. Realmente, creio que o senso de justiça e de retidão constitui a espinha dorsal do ser humano. Quem não o possui, não inspira segurança, pois se assemelha à água-viva, a qual é destituída de ossos.
Portanto, em relação a todas as coisas, em primeiro lugar, devemos distinguir o certo e o errado. Se a outra parte for do mal, é preciso oferecer resistência, valendo-se da justiça sem se intimidar. Essa atitude poderá render momentos amargos, mas não há motivos para preocupação pois, no final, tudo correrá a contento.
Atualmente, o mundo está repleto de pessoas maldosas. Basta o menor descuido para sermos enganados, usados ou prejudicados. De fato, viver neste mundo requer muita cautela. Em razão disso, o motivo de as pessoas medrosas viverem atemorizadas é porque lhes falta um firme senso de justiça e de retidão. Minha longa experiência é a melhor prova do que estou dizendo e, por esse motivo, vou tomá-la como exemplo.
Na época em que eu era empresário, ou seja, antes de me tornar religioso, fui enganado por muitas pessoas más e vivi amargas experiências. Por felicidade, nasci com um senso de justiça e de retidão mais forte que a maioria e, por isso, enfrentava tudo, sem levar em conta as vantagens e as desvantagens. O esforço empreendido na defesa da justiça acarretou-me muitos transtornos que, felizmente, foram passageiros. Com o tempo, a situação melhorava e, por fim, a outra parte acabava desistindo. O resultado é que eu revertia a situação inicial e até obtinha vantagens ainda maiores. Por eu ser assim, sempre me via envolvido em processos judiciais, e um deles vem-se prolongando até os dias de hoje.
Numa época em que eu passava por severas dificuldades financeiras, fui perseguido por pessoas que se aproveitaram de seu dinheiro e posição. Todavia, com o decorrer do tempo, fui favorecido pelas circunstâncias, e elas tiveram de desistir.
Darei um exemplo. Quando eu era comerciante de miudezas, criei um novo produto cuja patente foi registrada em dez países com extraordinária aceitação, o que me propiciou um contrato especial com a renomada Loja Mitsukoshi. Como o produto estava na moda, recebi uma proposta descabida da associação de varejistas de miudezas de Tóquio, pedindo que lhe vendesse uma das duas exclusividades destinadas à Mitsukoshi. Visto que rejeitei a oferta considerando-a uma afronta à Mitsukoshi, a associação tentou boicotar-me, reunindo todas as lojas do gênero da cidade, para obrigar-me a ceder. Dois anos de resistência me acarretaram considerável prejuízo, mas a associação deu-se por vencida e entramos em acordo.
Outro caso interessante ocorreu quando eu ainda negociava com a Mitsukoshi. Em protesto contra as condições injustas do acordo imposto por ela, neguei-me a fechar o negócio. O encarregado da operação, surpreso, disse-me ter sido eu a primeira pessoa que fizera oposição, quando, como regra geral, os fornecedores sempre se sujeitavam àquelas condições. Reconhecendo que eu estava com a razão, a Mitsukoshi desculpou-se, e o caso foi resolvido.
Após tornar-me religioso, diversas vezes, passei por momentos turbulentos, de sério perigo, conforme descrevi em minhas publicações. Nessa época, bastava a religião ser nova para sofrer pressão e perseguição. Como estávamos sob regime militar, não havia meios para reagir, e eu padeci bastante. Finalmente, o militarismo chegou ao fim, o que prova a vitória da justiça.
Por essas experiências, vemos que, embora o bem perca temporariamente em uma sociedade em que o mal predomina, a perseverança assegurará sua vitória definitiva. Enfim, não há nada melhor do que pautar-se destemidamente pela justiça e retidão, e marchar de cabeça erguida. E isto é o certo. Esse tipo de pessoa torna-se o sustentáculo da comunidade, a fortaleza contra o mal social, e possibilita o surgimento de uma sociedade sadia. Isto porque Deus sempre estará do lado dos justos e corretos.
10 de Outubro de 1951
Alicerce do Paraíso vol.1
Título anterior: O valor do homem reside no seu espírito de justiça”.