Já explanei e escrevi inúmeras vezes sobre o espírito de Izunome. Contudo, parece que poucas pessoas conseguem realmente cultivá-lo pelo facto de acharem difícil. Na verdade, não é tão difícil assim. Se compreenderem seu fundamento e fizerem dele um hábito, será fácil. A ideia preconcebida de que é muito trabalhoso é que inviabiliza tal realização. Ao mesmo tempo, parece-me que não se dá a devida importância e, por isso, não posso deixar de escrever repetidas vezes sobre o assunto.
Em síntese, izunome tem o sentido de trilhar o caminho do meio, mantendo-se imparcial. Não ser apenas shojo nem apenas daijo, mas ser shojo e daijo, ou seja, não tender aos extremos, nem definir as coisas de maneira impensada. Obviamente, aquilo que precisa ser definido não pode ficar sem definição, mas discernir isso é realmente complexo. Tal como ocorre na culinária, a comida, para ser saborosa, não pode ser nem salgada, nem insossa. O mesmo pode-se dizer a respeito do clima. O mais agradável é o da primavera e do outono, que não é nem tão quente, nem tão frio. Se o pensamento e a ação das pessoas se tornassem assim, equilibrados, elas passariam a ter a estima de todos e é evidente que tudo lhes correria bem. Entretanto, o homem da atualidade mostra acentuada tendência ao extremo. Temos o melhor exemplo disso na política. Dizendo-se de direita ou de esquerda, os políticos têm proclamado princípios que, desde o início, são extremistas. Além disso, como seu pensamento é radical, e eles são intransigentes, vivem em conflito. E tudo isso se torna extremamente prejudicial ao povo e à nação. Nesse sentido, é óbvio que a política deve actuar em estilo izunome. No entanto, parece-nos que há pouca probabilidade de surgirem políticos ou partidos com essa consciência. Isso porque, na atual circunstância, realmente são raros aqueles que conseguem se identificar connosco. A guerra também tem a mesma origem, ou seja, é o resultado de ambos os lados quererem impor seus pensamentos extremados.
Analisando os conflitos religiosos, verificamos que eles também surgem das diferenças entre as características shojo e daijo, ou seja, das diferenças entre a emoção e a razão. Nesse caso, se os dois lados cederem e se equilibrarem, será possível resolver essas desavenças harmoniosamente. Pensando bem, não é tão difícil chegar a uma reconciliação.
A respeito disso, também ocorre o seguinte. Em todos os segmentos da sociedade, existe o conflito entre conservadores e progressistas. A religião não é exceção. Nela, os conservadores são fiéis antigos que, aferrados à tradição, detestam novidades, e podemos dizer que se trata de uma fé retrógrada. Por outro lado, os progressistas tendem para o que é novo, mas repudiam tudo o que é antigo. Daí surge o desencontro de opiniões, que gera o conflito. Todavia, isto poderia ser facilmente resolvido se ambas as partes adotassem o estilo izunome. É importante que, mesmo a religião, deve conhecer bem o espírito da época. Não obstante, vejo que os religiosos são indiferentes a isso, existindo até mesmo uma forte inclinação para acharem que isso é o certo. Consideram tradições milenares como regras de ouro. De fato, a fé é de natureza espiritual, vertical e, sendo uma verdade eterna e imutável, é melhor que não sofra distorções. No que diz respeito à condução da Obra Divina, porém, a situação é diferente, pois, sendo esta de natureza material, o certo é adequar-se à época. Em outras palavras, uma atuação perfeita entre as partes espiritual e material, ou seja, é preciso que tudo seja realizado no estilo izunome.
Nesse sentido, nem preciso dizer que é impossível tocar a alma do homem moderno, utilizando nos dias de hoje as práticas e os ensinamentos de Buda Sakyamuni e Jesus Cristo da mesma forma que eles faziam em suas respectivas épocas. É importante saber que a estagnação das religiões tradicionais tem origem neste ponto.
Em suma, basta compreender que a actuação izunome é a verdade fundamental de todas as coisas. Desejo que os fiéis assimilem isso muito bem e é por esse motivo que me refiro constantemente ao seu significado.
25 de abril de 1952
Alicerce do Paraíso vol.3