É errado censurar as pessoas que mentem. Devemos, sim, ouvi-las, demonstrando admiração: “Ah, é verdade?!” Todavia, no íntimo, devemos estar cientes que elas estão mentindo. O homem precisa tornar-se astuto a esse ponto.
Há antiquários que me procuram e, subestimando-me, dão explicações sobre objetos de arte: “Este é assim; aquele é falso! ” Então, eu lhes respondo: “Observando bem, acho que o senhor está certo!” Embora, no íntimo, eu pense: “O que é que esse sujeito está dizendo? Ele é um tolo. Acha que eu não sei isso e fala comigo dessa maneira?”, permaneço ouvindo-o com aparente admiração. Fazendo isso, às vezes consigo aprender alguma coisa e penso: “É, ele diz coisas interessantes! De fato, ele tem razão.”
Um chinês (de cujo nome não me lembro) disse o seguinte: “Não faça distinção para conversar com as pessoas.” Há coisas ditas por um simples camponês ou por um trabalhador braçal que nos ensinam muito. Por esse motivo, não devemos discriminar as pessoas. Em princípio, tudo o que ouvirmos deverá ser levado em consideração.
Também há ocasiões em que aprendemos com as crianças. Acredito que já tiveram essa experiência. Às vezes, elas dizem coisas muito interessantes. Como as crianças têm a intuição autêntica, dizem coisas maravilhosas, o que nos faz lembrar a “Teoria da Intuição” de Bergson. Nas discussões entre mãe e filho, muitas vezes a verdade está do lado do filho.
Registro de Orientações, vol. 21, 1o de junho de 1953
Alicerce do Paraíso vol. 4